Nicolás Maduro foi declarado vencedor com 51,2% dos votos, mas oposição diz que houve fraude e cobra divulgação de dados completos da apuração. À esquerda, o presidente Nicolás Maduro. À direita, o candidato Edmundo González e sua aliada Maria Corina Machado, principal liderança opositora
Reuters
O resultado das eleições presidenciais realizadas neste domingo (28) na Venezuela foi recebido com desconfiança por autoridades dos Estados Unidos, de países europeus e de alguns vizinhos sul-americanos, entre eles Chile e Argentina.
Isso porque o Conselho Eleitoral Nacional (CNE) proclamou a vitória do presidente Nicolás Maduro sem divulgar os dados totais da apuração.
Segundo o CNE, Maduro foi reeleito para o terceiro mandato com 51,2% dos votos, contra 44% do opositor Edmundo González. A diferença é de 704 mil votos.
A oposição denuncia fraude, diz que venceu por ampla vantagem e exige a divulgação de todas as atas eleitorais, boletins que registram os votos em cada urna.
A última atualização dos números do CNE foi na madrugada desta segunda (29), quando o site da instituição saiu do ar. Naquele momento, a apuração estava em 80%.
Autoridades venezuelanas dizem que houve um ataque hacker e culpam a oposição.
Na capital Caracas, eleitores da oposição saíram às ruas e fizeram panelaços contra a reeleição de Maduro.
Autoridades de EUA, Reino Unido, Chile, Alemanha, Argentina, Uruguai, Espanha, Itália, Equador, Peru, Colômbia, Guatemala, Panamá, Costa Rica e Portugal contestaram o resultado e cobraram transparência, com a publicação integral dos dados da apuração.
O governo brasileiro adotou cautela e até o momento não reconheceu o resultado. O ex-chanceler Celso Amorim, assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, está em Caracas e vai se reunir com os dois lados.
Por outro lado, Rússia, China e Irã já parabenizaram Maduro.
Em nota divulgada nesta segunda, o governo brasileiro disse que observa “com atenção” o processo e que espera a divulgação total dos dados da apuração, “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
“O fato principal que nos leva a ser cauteloso é que não deram o resultado público mesa por mesa. O governo deu até agora um número, mas tem que mostrar como chegou nesse número, ata por ata”, afirmou Celso Amorim.
Veja a lista de quem contestou os resultados e de quem defendeu o presidente venezuelano.
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Processo conturbado
A comunidade internacional pressionava Maduro para que as eleições fossem limpas e transparentes. O governo dos Estados Unidos havia concordado em reduzir sanções econômicas que impõe ao país se isso ocorresse.
No entanto, durante o processo duas candidatas opositoras foram impedidas de concorrer, entre elas Maria Corina Machado, o nome mais forte a rivalizar com Maduro.
Na semana passada, o presidente venezuelano disse que haveria um “banho de sangue” caso fosse derrotado. Após Lula manifestar preocupação com a fala, Maduro respondeu com mentiras sobre o processo eleitoral brasileiro. Às vésperas da eleição, fechou as fronteiras do país.
No domingo, minutos após a divulgação do resultado, Maduro disse em discurso a apoiadores que sua reeleição era o triunfo da paz e da estabilidade.
“O povo disse paz, tranquilidade. Fascismo na Venezuela, na terra de Bolívar e Chávez, não passará”, disse Maduro.
De acordo com o CNE, 59% dos eleitores participaram da votação, número acima dos 46% registrados em 2018, quando Maduro conquistou seu segundo mandato em um pleito marcado por denúncias de fraude, boicote da oposição e alta abstenção.
Com o resultado, Maduro poderá completar 17 anos no poder e superar Hugo Chávez, seu antecessor, que governou por 14 anos até morrer, em 2013.
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