No dia anterior, a moeda norte-americana teve queda de 1,26%, cotada a R$ 5,6742. Já o principal índice de ações da bolsa de valores, encerrou com um recuo de 0,24%, aos 130.341 pontos. Notas de 1 dólar
Rafael Holanda/g1
O dólar opera em alta nesta quinta-feira (7) com importantes decisões no radar dos investidores. Por aqui, ontem o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) promoveu um novo aumento na Selic, taxa básica de juros, que agora está em 11,25% ao ano.
O movimento já era amplamente esperado pelo mercado, em meio a uma inflação persistente no Brasil, que ameaça encerrar mais um ano acima da meta do BC, e com o cenário fiscal no centro das atenções dos investidores.
O mercado aguarda o anúncio de um pacote detalhado de cortes de gastos públicos pelo Governo Federal. Nesta quarta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que espera anunciar os cortes em breve, mas que aguarda aval do presidente Lula para detalhes na proposta. Há expectativa de que as medidas sejam apresentadas ao Congresso ainda nesta quinta.
Lá fora, hoje é a vez do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mexer nos juros. No entanto, a expectativa para as taxas de juros dos Estados Unidos, atualmente entre 4,75% e 5,00% ao ano, é de uma queda — a segunda de um ciclo de cortes nos juros iniciados pelo Fed em setembro.
Apesar de ainda esperar uma baixa nos juros nesta reunião, o mercado acredita que o Fed deve reduzir a magnitude dos seus cortes para 0,25 ponto percentual, à medida que a economia norte-americana continua mostrando força, com um mercado de trabalho aquecido que pode voltar a pressionar a inflação.
Além disso, com a eleição de Donald Trump, que vai comandar os EUA pelos próximos quatro anos, a partir de 2025, especialistas esperam ver novas forças inflacionárias que podem levar o Fed a manter uma postura mais restritiva com os juros nos próximos anos.
Taxas maiores aumentam a rentabilidade dos títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo. Isso tende a levar mais dinheiro para os Estados Unidos, valorizando o dólar, mesmo com os juros altos por aqui.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
MOTIVOS: Ibovespa tem melhor mês desde novembro, mas dólar não segue o entusiasmo
DÓLAR: Qual o melhor momento para comprar a moeda?
Dólar
Às 09h30, o dólar subia 0,24%, cotado a R$ 5,6878. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda caiu 1,26%, cotada a R$ 5,6742. Na mínima do dia, chegou a 5,6647. Na máxima, a R$ 5,8619.
Com o resultado, acumulou:
queda de 3,33% na semana;
recuo de 1,85% no mês;
ganho de 16,93% no ano.
O
Ibovespa
O Ibovespa começa a operar às 10h.
Na véspera, o índice encerrou em baixa de 0,24%, aos 130.341 pontos.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 1,73% na semana;
ganhos de 0,48% no mês;
recuo de 2,86% no ano.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
O que está mexendo com os mercados?
Apesar do movimento de realização de lucros visto no Brasil, a quarta-feira foi de alta no dólar ante várias moedas ao redor do planeta.
Investidores esperam por um fortalecimento da moeda norte-americana nos próximos anos de governos de Donald Trump. Isso porque o republicano defende uma política protecionista com a economia dos EUA, diminuindo o comércio com a China e aumentando as tarifas de importações para outros países, como o Brasil.
“Trump tem batido muito mais forte contra a China e tem atuado para restringir, principalmente, exportações de tecnologia acessível para o país asiático. Ele também tem ameaçado punir países que comecem a operar na moeda chinesa”, explicou ao g1 Welber Barral, consultor especializado em comércio internacional.
“Então, com Trump, podemos ter uma sanção indireta — ou seja, uma sanção contra a China e que possa afetar as exportações brasileiras.”
Esse cenário poder mexer com a balança comercial brasileira, diminuindo o nível de exportações — o que reduziria a reserva de dólares e poderia pressionar ainda mais a inflação.
Mais que isso, o protecionismo econômico de Trump pode encarecer os preços dos produtos dentro dos EUA e gerar mais inflação no país. Como consequência, o mercado espera ver taxas de juros mais altas na maior economia do mundo nos próximos anos. São elas que servem de referência para o rendimento das Treasuries, os títulos públicos norte-americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, a desaceleração do dólar em relação ao real ocorre porque a vitória de Trump já era precificada pelo mercado — e o dólar, inclusive, disparou mais de 6% só na última semana, com isso no radar dos investidores.
“O mercado sempre dá uma exagerada no curto prazo e depois vê que não é bem assim. Até porque o dólar já vinha se valorizando bastante, então será que faria sentido ele continuar performando tão forte assim depois das altas que já haviam sido observadas?”, pontua Castro Alves.
A perspectiva de proximidade de um anúncio sobre o pacote de cortes de gastos voltou a animar o mercado.
O governo efetuou uma série de reuniões com ministros nos últimos dias para fechar os cortes de gastos necessários para manter o arcabouço fiscal — a regra das contas públicas — operante. A expectativa é que o anúncio das medidas possa ocorrer ainda nesta semana.
Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as reuniões ministeriais sobre cortes de gastos já terminaram e que o próximo passo é conversar com o presidente Lula sobre as propostas.
“A partir da devolutiva, Lula encaminha endereçamento ao Congresso”, disse. Acrescentou que o presidente da República possivelmente conversará com a cúpula do Congresso Nacional sobre o assunto.
“No fundo, a gente está vendo um andamento do pacote que deve ser anunciado até o fim da semana reduzindo o risco fiscal, que acho que é o ponto principal para que o câmbio continue num patamar elevado. Esse é o ‘calcanhar de Aquiles’ do Brasil. Uma sinalização feita pelo ministro traz uma atenuação para o dólar”, explica Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.