A volta à cena de Geraldo Vandré após 50 anos de silêncio – em dois shows sinfônicos programados para hoje e amanhã, 22 e 23 de março, na Sala de Concertos Maestro José Siqueira, no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa (PB) – é por si só um dos acontecimentos mais importantes da música brasileira em 2018. Talvez o mais emblemático de um ano que ainda não terminou. Assim como 1968, ano em que o cantor, compositor e músico paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias começou a ser visto como um mártir da música brasileira, vítima da ditadura comandada pelo regime militar instaurado no Brasil em 1964.
Naquele efervescente ano de 1968, Vandré virou herói da resistência ao defender a marcha autoral Pra não dizer que não falei de flores, popularmente conhecida como Caminhando, na polarizada terceira edição do Festival Internacional da Canção (FIC). A canção imperativa de Vandré acabou em segundo lugar, derrotada por Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968), mas nem por isso o autor deixou de ser um dos alvos preferenciais da censura aos compositores. Talvez o alvo preferencial, no que seria seguido de perto pelo concorrente Chico Buarque.
Vandré então saiu de cena. O parceiro de Theo de Barros em Disparada (1966) preferiu calar a própria voz – uma voz que se levantara contra a opressão com o uso da canção como arma política. Não foi torturado e tampouco enlouqueceu, como esclareceu a biografia Geraldo Vandré – Uma canção interrompida (2015), escrita pelo jornalista Vitor Nuzzi e publicada há três anos. Mas virou um refugiado, um enigma cuja solução foi sendo progressivamente dificultada pelo temperamento forte e arisco do artista, imerso desde sempre em imutáveis convicções nacionalistas.
Mas eis que Vandré volta à cena e se faz ouvir novamente em concerto que, na segunda parte, será feito com a Orquestra Sinfônica da Paraíba (a primeira parte é um recital de voz & piano que juntará o artista com a pianista Beatriz Malnic). Enfim, o Brasil poderá ver e ouvir um homem que virou mito por força das circunstâncias.
Quando a vida artística de Vandré foi interrompida, a única saída foi o exílio em países como Chile e França, onde gravou em 1970 um último álbum, Das terras de benvirá, editado no Brasil em 1973, ano em que Vandré voltou ao país para se exilar na própria terra natal, ficando arredio na cidade de São Paulo (SP) até decidir voltar, nos últimos tempos, para João Pessoa (PB), onde veio ao mundo em 12 de setembro de 1935. Cidade onde solta novamente a voz na estrada pela qual começou a caminhar com firmeza na década de 1960.
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